Professora que passou dever de casa sobre sexo oral é afastada em Vila Velha
Caso ocorreu em Vila Velha, com alunos de 12 anos, e é investigado por comissão da Assembleia Legislativa. Profissional foi afastada
Auxiliar de serviços gerais fez denúncia após ficar sabendo do caso pela filha.
Texto: Regina Trindade/Foto: Dayana Souza/AT – Tribuna Online
Comissão de Proteção à Criança e ao Adolescente e de Política sobre Drogas da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales) está investigando denúncia sobre um conteúdo passado em sala de aula em uma escola municipal de Vila Velha.
De acordo com a denúncia, feita na última sexta-feira (11), uma professora de Ciências passou uma tarefa de casa com cunho sexual e com perguntas consideradas inadequadas por educadores.
Entre as perguntas que os alunos deveriam responder estavam: “Qual é a importância de fazer sexo?”, “O que é sexo oral?” e “O que é masturbação?”.
A denúncia partiu de uma auxiliar de serviços gerais, 40, mãe de uma menina de 12 anos, que estuda o 7º ano do ensino fundamental. A mãe afirmou que a professora passou uma prova que deveria ser feita em casa a partir de pesquisa na internet.
Para o presidente da Comissão, deputado Lorenzo Pazolini, a postura da professora foi inadequada.
“Não há nenhum tipo de finalidade educativa nessas perguntas. Extrapolou o conteúdo pedagógico. Esse tipo de pergunta aguça a curiosidade das crianças e pode levar até a práticas sexuais precoces,” afirmou.
A mãe da estudante de 12 anos contou que só ficou sabendo que a professora estava passando esse tipo de conteúdo após perceber mudanças no comportamento da filha.
“Ela começou a pedir para faltar à aula nas quintas e sextas-feiras, que é quando tem aula de Ciências. Minha filha gostava de ir para a escola. Mas isso mudou”, relatou.
Conforme a denúncia, a professora dava aulas apenas de Português, mas há dois meses assumiu também a disciplina de Ciências.
A professora foi notificada pela Comissão e vai ser ouvida na Assembleia Legislativa no próximo dia 24. A diretora da escola também foi notificada a comparecer.
“A diretora e a professora estão intimadas a virem aqui para explicar, até para oferecermos a oportunidade para que todos possam se manifestar”, informou Pazolini.
A Prefeitura de Vila Velha, por meio da Secretaria Municipal de Educação, informou que o caso está sob investigação e que a primeira providência tomada foi o afastamento da professora acusada da unidade de ensino, “sem prejuízo à investigação e a eventuais medidas que se façam necessárias”.
“Contou chorando. Minha filha perdeu a inocência”
A Tribuna – Como a senhora ficou sabendo que sua filha estava recebendo esses conteúdos?
Mãe – Minha filha estava querendo faltar à aula, mas ela nunca foi disso. Ela contou o que estava acontecendo para a irmã mais velha, no caminho da escola para casa. Quando eu cheguei do trabalho, a mais velha me disse que tinha algo errado. Eu chamei a minha filha de 12 anos para conversar, e ela me contou.
Como foi tratado em sala de aula?
Minha filha contou que a professora passou um trabalho para ser apresentado para os colegas, com o mesmo tema, mas não gostou do resultado. Aí mandou as crianças fazerem essa prova em casa, respondendo as perguntas com pesquisa na internet.
Como foi sua reação ao saber disso?
Eu pesquisei esses termos na internet e automaticamente veio conteúdo pornográfico. Fiquei assustada e procurei algum tipo de assistência. Encontrei a Comissão na Assembleia.
E a filha da senhora, como está depois desse caso?
Ela contou tudo chorando. Minha filha perdeu a inocência. Ela só tem 12 anos, é uma criança, brincava de boneca. Agora perdeu o interesse e está muito constrangida por tudo o que aconteceu.
A senhora procurou a escola?
Sim. Falei com a diretora, que se assustou. Já a professora nem ligou, disse que é normal. Meu medo é de ela ser mandada para outra escola e fazer isso com outras crianças inocentes.
Comissão vai ouvir acusada e diretora
Denúncia
- A denúncia foi feita na última sexta-feira (11), à Comissão de Proteção à Criança e ao Adolescente e de Política sobre Drogas da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales).
- A mãe de uma estudante de 12 anos, aluna do 7º ano de uma escola de ensino fundamental de Vila Velha, fez a denúncia.
- De acordo com a mãe, a filha estava constrangida e assustada depois que a professora de Ciências foi substituída por uma professora de Português, que estava ministrando conteúdo sobre sexo.
- A mãe disse que a filha passou a não querer mais ir à escola nos dias de aulas de Ciências.
- A criança, que tinha boas notas, começou a apresentar baixo rendimento escolar.
Como foi a situação na escola
- A menina contou para a mãe que a professora passou um trabalho para ser feito em sala de aula sobre sexo, com termos explícitos e inadequados para a idade.
- A professora não teria gostado do resultado do trabalho e mandou os alunos fazerem um prova em casa, pesquisando as respostas na internet.
As perguntas
- A professora passou uma tarefa de casa com cinco perguntas, que deveriam ser respondidas a partir de pesquisa na internet. As perguntas eram as seguintes:
- O que é sexo?
- Qual é a importância de fazer sexo?
- O que é sexo oral?
- O que usar durante o sexo?
- o que é masturbação?
Investigação
- A denúncia está em investigação na Comissão de Proteção à Criança e ao Adolescente da Assembleia.
- Outras famílias também procuraram a comissão da Ales, mas não oficializaram a denúncia.
- A professora e a diretora da escola foram intimadas a dar depoimento na Comissão de Proteção à Criança e ao Adolescente no próximo dia 24.
- De acordo com a Prefeitura de Vila Velha, o caso também está sob investigação na Secretaria de Educação do município.
- A primeira providência tomada foi o afastamento da professora acusada da unidade de ensino.
- Vai ser investigado se o fato caracteriza crime.
Fonte: Assembleia Legislativa do Espírito Santo.
Mais didática ao falar sobre o tema
O assunto sexualidade deve ser abordado com muito cuidado, didática e seriedade em sala de aula, de acordo com especialistas.
Para a doutora em Educação Edna Tavares, o ensino deve servir para que jovens e adolescentes desenvolvam conhecimento, habilidades e valores éticos para fazer suas escolhas de forma saudável e respeitosa sobre o sexo.
“Abordar esse assunto de forma ampla não significa discutir ou solicitar explanação de formas e variações do ato sexual. É difícil perceber ou imaginar como se sentiria uma criança entre 11 e 12 anos tendo que abordar esse tema de forma didática e avaliativa para outros colegas de sala”, comentou a doutora.
Edna Tavares: valores éticos (Foto: Fernando Ribeiro/ Arquivo AT/ 15/09/2016)
A professora e psicopedagoga Maria José Cerutti disse que o sexo deve ser tratado da forma mais didática possível, e os pais e responsáveis devem estar cientes de que o assunto está na grade curricular.
“Os alunos devem conhecer o corpo humano com cunho científico e não sexualizado. O professor tem de explicar na medida em que o aluno precisa saber, de forma ética, científica e com todo o cuidado, para não se tornar vulgar”, frisou.
A professora ainda reforça o cuidado na discussão do assunto em sala de aula. “Falar sobre tipos de relações, como aconteceu nessa escola, entra em um terreno que não é didático nem responsável.”