Dor e tristeza marcam a II Caminhada por Justiça e Paz no trânsito, em Domingos Martins
Texto: Sidney Dalvi / Fotos: Sidney Dalvi – Montanhas Capixabas
Na tarde do sábado (07), às 16h30, aconteceu a II Caminhada por Justiça e Paz no trânsito, em homenagem às vítimas do trágico acidente na BR 101, em Mimoso do Sul, que tirou a vida de 11 pessoas, sendo nove dançarinos do Grupo Folclórico Bergfreunde, o motorista Vanderlir Müllere o filho de uma das integrantes do grupo.
Cerca de 100 participantes se reuniram no coreto da Praça Dr. Arthur Gerhardt. Estavam presentes pais, amigos e parentes das vítimas, que vestiam camisas com as fotos dos entes familiares que perderam suas vidas, além dos demais participantes do grupo, que vestidos com seus trajes típicos seguravam faixas e cartazes, e protestaram pedindo por justiça na condenação dos responsáveis pelo acidente.
O início da caminhada foi em frente ao antigo Hotel Imperador, onde a emoção tomou conta dos integrantes, pois o músico local Eden Schwambach Junior, com o auxílio do sistema de som de seu veículo, entoava mensagens escritas pelos familiares e sobreviventes da tragédia, as quais faziam referência ao Bergfreunde, fazendo com que várias pessoas que ali estavam viessem às lagrimas.
A manifestação prosseguiu, passou pela rua do antigo restaurante Del Puppo e entrou pela Rua de Lazer, onde alguns turistas e comerciantes prestaram suas homenagens ficando em pé e em silêncio, o que lembrava uma reverência ao momento de dor vivido por aquelas famílias naquele momento.
Da mesma forma, das varandas dos prédios, quem avistava a passeata, de alguma forma mostrava sua sensibilidade ao ver a cena de pais, mães e amigos das vítimas aos prantos. Seguindo pela Avenida Presidente Vargas, a caminhada terminou no coreto na Praça Dr. Arthur Gerhardt, onde continuaram as homenagens.
Convidado a proferir algumas palavras, o comandante do CPO Serrano, o coronel Marcelo Corrêa Muniz, esteve presente no local e se emocionou quando foi convidado a falar para o público presente. “A saudade é um sentimento bom, mas às vezes ela dói, como está doendo neste momento”, afirmou o Coronel.
O Comandante da 6ª CIA Ind. da PMES, Major Edinei Balbino de Souza, destacou que o trânsito é um local de relação social e que, portanto, há que se ter respeito. “Todos os dias vemos situações no trânsito que são causadas pela falta de respeito entre os indivíduos”. É preciso repensar sobre o respeito, não só em relação às normas de trânsito, mas principalmente entre os indivíduos”, salientou o Major.
Mães que sofrem
Inconsoláveis e chorando muito, as mães de vítimas do acidente, Lenilda Santana Duarte Wetter e Anelize Saar, quase não conseguiam falar com a nossa equipe de reportagem. Anelize lamentou estar passando por essa situação e espera que a justiça seja feita. “É muito difícil. A justiça é falha, a gente sabe, mas nós não vamos desistir enquanto a gente não conseguir”, enfatizou Saar.
Já Lenilda, carinhosamente conhecida como Dona Lena, lembrou que essa caminhada começa a partir de perdas de vidas e disse que é algo impossível de ser esquecido. “A dor não passa. A gente dorme e acorda com ela. Quando a gente acorda é o nosso primeiro pensamento e quando a gente vai dormir é o nosso último”, contou emocionada Dona Lena.
Carta ao público
As famílias das vítimas fatais do Grupo Folclórico Bergfreunde de Campinho, assim como os sobreviventes da tragédia, decidiram escrever uma carta à comunidade e às autoridades, com a intenção de que o ocorrido não caia no esquecimento, e que seja feita a justiça. Leia a carta na íntegra:
Grupo Folclórico Bergfreunde de Campinho
Domingos Martins, 7 de setembro de 2019
Carta aberta à comunidade e às autoridades
Nós, famílias das vítimas fatais, do Grupo Folclórico Bergfreunde de Campinho e sobreviventes da tragédia que ocorreu com o grupo no dia 10 de setembro de 2017 e que vitimou fatalmente onze pessoas, viemos a público, mais uma vez, estamos realizando essa manifestação para que o ocorrido não caia no esquecimento e para que a justiça seja feita.
Mais um ano passou e o dia 10 de setembro se apresenta novamente. Traz consigo a dor da perda, a angústia da ausência e a revolta da impunidade. Desde o dia 10 de setembro de 2017 convivemos com esses sentimentos. Onze famílias e uma cidade que tiveram suas vidas e suas rotinas repentinamente transformadas e desde então, estão condenadas a conviver com a perda tão trágica dos seus.
Neste período de dois anos, tentamos viver nossas vidas, retomar nossas atividades, mas é comum nos pegarmos, distraídos, lembrando da alegria que aqueles meninos e meninas nos traziam, seja em casa ou nos palcos quando se apresentavam. Não houve um dia sequer que nossos pensamentos não nos levaram até eles.
Mas o que realmente dói é saber que fomos privados da convivência deles pela imprudência, por ações inconsequentes que põem em risco muitas vidas todos os dias nas estradas. E temos certeza que, essa falta de prudência no trânsito só vai acabar quando aqueles que desrespeitam a vida ao assumirem uma direção perigosa forem punidos com o rigor da lei.
Dois anos para quem perdeu um ente querido é uma eternidade. É uma vida. No nosso caso, ainda temos a sensação de que fomos os únicos penalizados. Foram 11 homicídios e 09 tentativas de homicídio, mas até agora o processo pouco avançou. E é essa sensação de impunidade que tem levado um pedaço de nós a cada dia que passa.
Os dias passam lentos, o tempo machuca com a dor da saudade, mas confiamos na justiça de Deus e acreditamos na chegada da justiça dos homens. Por isso, fazemos um apelo às autoridades. Nosso grito é para que a justiça seja feita neste caso, mas também que isso possa contribuir, para que outras famílias não precisem passar por isso que estamos passando. Sabemos que não foi acidente e que poderia ter sido evitado de muitas formas. Não deixem que aconteça novamente. Apelamos também aos motoristas profissionais ou não. Tenham cuidado e sejam prudentes. Vocês transportam vidas. As suas vidas, de suas famílias e de famílias alheias estão em suas mãos ao assumir a direção de um veículo.
Respeitosamente,
Famílias das Vítimas
Grupo Folclórico Bergfreunde de Campinho
Associação Cultural e Recreativa Campinho