Quase metade das vítimas de trânsito no Estado em 2020 estavam sob efeito de álcool ou outras drogas
Foto: Polícia Civil
Um estudo realizado pelo Laboratório de Toxicologia Forense, subordinado à Superintendência de Polícia Técnico-Científica (SPTC), concluiu que 48% das pessoas que morreram em acidentes de trânsito no Espírito Santo em 2020 estavam sob efeito de álcool e/ou drogas ilícitas. O levantamento analisou 635 amostras de sangue ou urina e constatou que 304 apresentaram vestígios de materiais entorpecentes.
Os peritos também analisaram 231 amostras de vítimas de acidentes ocorridos no primeiro semestre de 2021, e os dados se mostraram semelhantes: 41% das vítimas tinham consumido álcool ou outras drogas. Os dados foram divulgados, na última quinta-feira (23), em alusão à Semana Nacional de Trânsito 2021, que tem o objetivo de incentivar e promover na sociedade um trânsito mais seguro.
A perita toxicológica Mariana Peres, responsável pelo levantamento, explicou que os testes podem identificar álcool, maconha, cocaína e anfetamina, por meio de amostras de sangue e urina. Cada material entorpecente provoca alterações na capacidade cognitiva e nas reações das pessoas, o que contribui para a ocorrência de acidentes.
“O álcool vai diminuir os reflexos e aumentar a percepção de que [a pessoa] pode correr alguns riscos. A cocaína e a anfetamina (esta última, muito utilizada por motoristas profissionais em forma dos conhecidos ‘rebites’) são substâncias estimulantes, que aceleram o funcionamento do cérebro, o que leva ao aumento de velocidade, mais distração, diminuição do controle de impulsos. Já a maconha prejudica pelo efeito contrário, pois tem o que chamamos de efeito perturbador, que é alteração da percepção, porque deixa a pessoa mais lenta, afeta à coordenação motora e diminui a percepção espacial”, descreveu Mariana Peres.
O álcool foi a substância mais encontrada no sangue das vítimas fatais: 199 casos em 2020 (31,4%), e 66 em 2021 (28,2%). Outras drogas foram identificadas em 49 casos isolados em 2020 e seis em 2021. Já a combinação de álcool e drogas, foi verificada em 56 casos em 2020 e 27 em 2021.
As amostras analisadas no estudo são de pessoas que morreram em acidentes de trânsito em todo o Espírito Santo, independentemente de serem motoristas, caronas, pedestres, ciclistas ou motociclistas. O levantamento também não indica se a pessoa que foi a óbito foi a causadora do acidente.
A Lei Seca (lei 11.705/08) está em vigor há mais de 13 anos, apesar disso, a combinação álcool e/ou drogas continua a aparecer em acidentes de trânsito.
Para o titular da Delegacia Especializada de Delitos de Trânsito (DDT), delegado Maurício Gonçalves, as mortes no trânsito em decorrência do consumo de entorpecentes devem ser vistas como tragédias anunciadas.
“Uma pessoa que faz o uso da substância ilícita está há anos recebendo informações a esse respeito. Ela tem pela consciência que o uso de substâncias vai afetar o comportamento dela, e ela ainda assim quer tomar essa conduta, em detrimento de toda a segurança no trânsito e, inclusive, da própria vida. Portanto, é uma questão de consciência”, afirmou o delegado.
Com informações da Polícia Civil