sábado, abril 19, 2025
COLUNISTASSiegmund Berger

Opinando: 160 anos da Imigração Pomerana

O dia 28 de junho foi lembrado por meio de diversas comemorações por diversos Municípios do Estado do Espírito Santo em decorrência do aniversário de 160 anos da Imigração Pomerana. Diversas solenidades aconteceram em Câmaras de Vereadores, no Palácio Anchieta e na Assembleia Legislativa.

Os primeiros imigrantes pomeranos chegaram no Espírito Santo no dia 28 de junho de 1859. Partiram dois meses antes no navio transatlântico denominado “Eleonor” de Hamburgo, na Alemanha. Embarcaram 27 famílias, num total de 117 pessoas. Desembarcaram no Porto do Rio de Janeiro e lá embarcaram em outro navio com destino a Vitória .

“Os pomeranos pioneiros desembarcaram do navio Gutenberg no Porto de Vitória no Estado do Espírito Santo em 28 de junho de 1859, provenientes da Pommerland, território pomerano das planícies da costa do Mar Báltico.”

“A Pomerânia estava localizada na Europa, às margens do Mar Báltico. A historiadora Cione Marta Raasch Manske, no livro “Pomeranos no Espírito Santo”, ressalta que o solo fértil, a diversidade hídrica e a localização estratégica desencadearam disputas pela posse da terra na Idade Média, deixando-a marcada por guerras, epidemias e fome. A imigração, neste contexto, mostrou-se como uma opção para a sobrevivência. Durante um período prolongado, diferentes conflitos devastaram o local. Em 1720, o território é conquistado pela Prússia, que em 1817 institui a “Província Prussiana da Pomerânia”. No século XIX, conforme aborda a autora, mudanças políticas, econômicas e sociais contribuíram de forma significativa para o agravamento da situação de crise. A instabilidade social gerada pelo desemprego impulsionou os pomeranos a imigrarem para o Brasil, com destaque ao Espírito Santo.

O diretor-geral do APEES, Cilmar Franceschetto, explica que para alcançar os lotes coloniais, seu destino final, os imigrantes tinham que subir o Rio Santa Maria até o então “Porto do Cachoeiro”, atual Santa Leopoldina. Nessa primeira viagem vieram os Bielke, Graunke, Krause, Küster, Raasch, Reinnholz, Schulz, Schmidt, Schumacher, Schroeder, Schwantz, Zumach, entre outros. Nos contratos de estabelecimento agrícola constam informações sobre os locais de origem na Europa, tais como: Horst, Bonin, Glietzig e Lankow. Essa região, hoje em dia, pertence à Polônia e compõe a parte noroeste desse país junto ao mar Báltico. Até 1860 vieram outros 46 imigrantes. Porém, o maior fluxo se verifica entre os anos de 1868 a 1874. Ao todo, foram 2.223 colonos de origem pomerana que entraram no Estado.”  “Em Santa Leopoldina receberam lotes em uma região montanhosa denominada Alta Pomerânia, lugar que deu origem, posteriormente, ao município de Santa Maria de Jetibá. Cada família recebeu sua gleba de terra em meio à floresta virgem. Tiveram de providenciar suas próprias habitações, adaptando-se a novos costumes, em um ambiente que lhes era muito hostil e extremamente diverso das vastas planícies litorâneas da Pomerânia. Ao mesmo tempo, procuravam manter seus ideais, valendo-se de seus dotes culturais, da fé, do trabalho e principalmente, da esperança de um futuro mais promissor” ressalta Franceschetto. (Conforme publicação do Arquivo Público do ES)

“Após mais de 160 anos de lutas históricas na produção de suas existências materiais e simbólica no Brasil, o Povo Tradicional Pomerano mantiveram a oralidade da Língua Pomerana e as tradições de sua cultura, como a culinária, vestuário, festas, em especial o casamento, arte, arquitetura e ritos.”( cf. CARTA ABERTA DO POVO TRADICIONAL POMERANO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO).

Na atualidade tem sido exaltadas algumas peças teatrais onde os artistas, ao interpretarem os pomeranos, utilizam linguagem grosseira e demonstrando falta de conhecimento, enaltecendo o isolamento cultural e econômico. Isso precisa ser questionado. Se ainda temos pomeranos com dificuldade de se expressar na língua portuguesa é porque lhes foi tirada a oportunidade de frequentar centros educacionais que viessem ao encontro de suas necessidades. O povo pomerano é muito familiar e o sistema educacional imposto os leva a entender que sinônimo de educação escolar é o de abandonar sua família e buscar outros rumos.

Essa realidade precisa ser modificada. A educação precisa estar voltada para a cultura local, gestada a partir dos conhecimentos familiares e com o objetivo de ir ao encontro das necessidades do povo, objetivando o seu desenvolvimento local. Quando isso acontecer, o povo pomerano dará de fato o devido valor à educação escolar.

Siegmund Berger

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